quarta-feira, maio 16, 2007

Espanhóis no Rio, primeira parte!

Joanna, uma criança de três anos de idade, vivia sua rotina diária com a família. Ela vai para o jardim de infância, brinca com os amiguinhos e depois volta para casa. Tem dois animais de estimação: uma cadela muito mansa e quieta e um gato atentado, quase neurótico. O felino tem síndrome de cachorro; morde todo mundo. Ninguém consegue fazer um carinho que ele morde. E é muito ciumento. Se você fizer um carinho na cadela, ele morde o seu pé e dá umas patadas na coitada depois.

Ela reparou que o mundo em que vivia era maior do que imaginava no colégio. Joanna já está aprendendo a falar inglês. A mãe, orgulhosa, sempre faz exibição da menina prodígio:

- Juju, como é vermelho em inglês? A criança responde:

- “Ruede” (Red).

- Juju, como é amarelo em inglês? A criança responde com cara de orgulho:

- “Iellou” (Yellow).

A esta altura, a Juju já percebeu que há pessoas que falam línguas diferentes. Eis que chega ao Rio a tia Roberta, mais conhecida como Tia Ata, de São Paulo de biquíni para um almoço em família. Ela olhou atenciosamente para a tia com cara desconfiada:

- Oi, Tia Ata! Porque você demorou tanto para chegar? A Joanna sabe que a Tia Ata mora em outro Estado. Mas lá todos falam o mesmo idioma: o português. E já tinham avisado para ela que a Tia estava no Rio. Por isso, no dia anterior, ela se arrumou e ficou esperando a tia chegar em casa. Entretanto, não chegou.

Ao ser questionada pela criança, a Ata respondeu:

- Eu cheguei muito tarde ontem e acabei dormindo na casa de uma amiga espanhola, a Rebeca. Por isso que só consegui te ver hoje. A criança olhou novamente desconfiada, no estilo: você está me enganando, mas tudo bem!

A partir de então, as duas começaram a dançar a dança da Xuxa e a fazer bagunça no restaurante. No fim do almoço, a Joanna não quis deixar de jeito nenhum a tia ir embora sozinha. Ambas foram para a praia de Ipanema encontrar os amigos espanhóis.

Assim que chegaram, os espanhóis começaram a brincar com a Juju. Ela olhou com uma cara como se dissesse “não estou entendendo nada”. No entanto, o interesse principal era brincar. A titia paulista quis ensinar a sobrinha que existem vários paises com línguas diferentes e que eles eram espanhóis. Contou também que “Oi, tudo bem” para eles era “Hola, que tal”.

Todos tentaram veementemente fazer com que a criança falasse “hola, que tal”, entretanto, nada saída. Foi então que um dos amigos comentou:

- Vamos procurar um “Ristorante” para almoçarmos, falou Jesus com sotaque espanhol.

Joanna se sentiu agredida com o erro de dicção e gritou para corrigir.

- Não é assim! É “ressstaurante”, com sotaque carioca.

Jesus tentava falar corretamente e não conseguia. A Juju berrava mais ainda a pronúncia correta. Os dois travaram uma briga até desistirem. E todos, em volta, riam.

Após o primeiro combate, Joanna continuou quieta, prestando muita atenção. Todos queriam ser muito simpáticos. Até que Jesus fez novamente contato. Ao chegar perto, Juju falou baixinho para a Tia:

- Ata, ajeita o meu vestido. O meu peito está aparecendo.

A tia não agüentou e começou a rir. Não acreditava que uma criança de três anos iria se importar com isso. Joanna brincou mais um pouco com Jesus. Depois, foi a vez de outro amigo, Sergio, brincar com a criança.

- O que são esses pauzinhos em suas mãos? Ela respondeu:

- São baquetas! Eu não tenho ainda é o tambor. Vale lembrar que as “baquetas” eram pauzinhos para comer comida japonesa do “ressstaurante” onde almoçaram.

Quando Sergio saiu de perto, a Juju comentou novamente baixinho para sua tia:

- Ata, esse cara não sabe nada. A intenção dela era dizer que ele estava falando o português errado, com sotaque.

A Tia começou a brincar com a criança chamando de “carioca folgada” e ficaram implicando uma com a outra até ir embora.

Após a aventura, as duas foram para a casa do vovô Beto. Quando chegaram lá, Joanna falou para o avô:

- Hola, que “tale”!

Todos começaram a rir. Ela continuou dizendo:

- Vovô, agora eu sei falar duas línguas: inglês e espanhol. “Ruede”, “iellou”, “blue”, “hola, que tale”...

O dia foi tão exótico que à noite, no meio do sono, ela começou a falar enrolado. A mãe acordou e questionou:

- Joanna, o que foi?

Ela continuava a falar enrolado. A mãe perguntou novamente:

- Joanna, o que é?

Ela respondeu:

- Mãe, to falando espanhol.