terça-feira, dezembro 20, 2011

inacabado

A dor
A dor mais profunda que um ser pode vivenciar
Aquela coisa que nos desespera
Aquela que dilacera
Aquela que nos faz sentir
Nos faz cair

Muitos podem questionar
Onde estava tu, senhor
Deus que não me poupou
O que será que fiz
Para receber ... o que fiz?

Como qualquer pessoa?
Como pode machucar tanto outra?
A ponto do amor
Se transformar em ódio, horror

Como perdoar?
É fácil falar
Enganar os outros
Mas nunca a si mesmo

Mas é justamente disso
Do sofrimento
Que há o maior ensinamento
Basta calar o pensamento

Perceba que
Nada na vida tem razão de machucar
Nada é pra te castigar
É pra ensinar

Tire tudo o que o coração ferido
Possa ter dito
Bote de lado
Tudo o que foi dito
Esqueça a tristeza
Do que foi visto

Imagine que ninguém
Nenhum ser humano
Passou exatamente
Pelo que você experimentou

O que você aprendeu
Pelo que viu
Sentiu
Ouviu
Isso é só seu

Então tente entender
Por que isso aconteceu justo com vc
Por que se sentiu assim
Por que o outro se ofendeu tanto assim
O que foi que fiz
Até onde entendo
O que os outros enxergam em mim

Posso melhorar
Tentar mudar
Algo que me dê a esperança
De não mais passar
Viver como uma criança
Passar o passado pra trás

Somos uma colcha de retalhos
De retratos, frações de segundos diários
Juntos, entrelaçados
Com alegrias e tristezas
Como distingui-las
Senão vivê-las
Cometa besteiras
Não viva em vão
Apenas tire, sempre,
Alguma lição

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Lua e suas fases: Conto

Lua e suas fases: Conto

Lei da atração



Hoje vivi uma mistura
Do que quis
Com o que mais temi
Nunca é o que decidi
O destino utiliza uma matemática errada
Numa equação alienada
E acaba por decidir por si mesmo

Não será sempre
O que eu preferia
Mas há algo importante
Místico na contradição
Um mergulho no vazio

Não tente entender
Não aja pensando só em você
Não sofra em vão

Ninguém está aqui pra atacar
Ninguém está aqui pra machucar
Todos aqui também acabam por sofrer
Pois todos vivem numa trama
Numa novela mexicana
Em que cada atitude minha
Impacta vida na de outros
Ou melhor, no sonho dos outros

Como equilibrar
Como não prejudicar
Ou ser prejudicado
Como manter a paz e alguma razão
Enquanto nossa essência é coletiva
Somos uma multidão

São nos conflitos que a vida grita
Berra comigo
Ensina-me uma lição
Ensina-me o que não quero ver
Ajuda-me a sobreviver

Não há vilões ou mocinhos
Há momentos de vida
Prioridades pelo caminho
Subtextos e mentes em ação

Por isso hoje
Não vou me importar
Vou esperar
Vou perdoar
Vou tentar entender
Que tudo acontece porque tem que acontecer
Tudo é válido
Tudo acontece por um motivo
Aprendi que é muito chato viver sozinho
Preciso de você
Pra realizar o que meu eu cria

Portanto, hoje agradeço por você existir
Hoje tento aprender a conviver com o vizinho
Hoje tomo responsabilidade pelas minhas ações
Hoje analiso até onde errei
Até onde não podia errar sozinho

Por fim,
Hoje coloco a cabeça no travesseiro
Hoje não vou ter pesadelo
Não vou dormir com aperto no coração
Hoje aprendi a dizer perdão

Canção do absurdo



Encontro o vazio
Escondo-me do vizinho
Não escolho, fecho o olho
É no escuro que aprendo um pouco

E mesmo no silêncio
Do nada e do tudo
Vejo uma luz no fim do túnel
Mas é real? Possível?
Ou apenas um lindo sonho louco?

Hoje, busco por sorrisos
Boa companhia dos bons amigos
Talento pra compartilhar
Não de separar
Mas parada, é onde quero estar?

Onde está a confiança?
Ter mas não querer usar
Às vezes é melhor camuflar
Humildade no olhar
Largar as armas
O tempo irá julgar

Desculpe, estou cega
Não sei o que procuro
Já corri tanto, agora durmo
Mostre-me algo obtuso
Ou algo bonito, num sussurro
Abraço de urso
Pra me deitar, me render,
É tão oportuna a passividade do ser

Escondo-me na correria
A pressa ajuda a não perceber
Entender o que não consigo aprender
Vai saber!

O relógio não vai parar
Tic-tac, tic-tac...
Escolha agora, já
Pegar ou largar
Ninguém quer esperar

Por favor, espere!
Conheça mais um pouco
O viver pode ser tão valioso
Sem saber
Aprendo mais um pouco

Escuto até os loucos
Surpreendo-me na surpresa
O vazio pode ser tão gracioso
Tão gostoso
Agora me entendo mais um pouco
Não viver isso?
Isso sim é um absurdo.

Encontro-me no vazio do meu ser
Pra tentar te entender, me deixar preencher
Pode até demorar
Mas quero amar como um todo.

sábado, dezembro 10, 2011

Lúcida em excesso

“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”.

Fonte: Clarice Lispector