quinta-feira, junho 07, 2007

No aeroporto de Paris, a imigração me fez tirar até o sapato para eu conseguir embarcar. O mais engraçado é que lembrei da Clarissa me sacaneando na minha despedida:

- Você não vai para a Europa com essas meias velhas horríveis! Eu fui. E andei por Paris com elas, somente elas...rs Já que Andy Warhol disse que foto de latinhas de Coca-Cola são arte, eu digo que andar de meias velhas na Fraça na frente de pessoas do mundo inteiro é fashion!

Sentou ao meu lado um médico indiano que mora em Dublin há seis anos. A partir de então começou a minha saga para tentar entender o que os irlandeses e estrangeiros que moram no Tigre Celta falam. Parece que eles tëm um ovo na boca. Toda a desenvoltura que achei que havia conquistado em Paris foi por água baixo. Aqui sim eu aprendi a fazer mímica! Ah! Sim, com certeza.

Cheguei e foi uma peregrinação para chegar em Greystones, cidade praiana próxima a Dublin. O maior desafio foi subir as escadas rolantes da Connoly Tren Station com duas malas grandes. Tentava colocar uma no degrau mas ficava com medo dela cair no chão e fechar a passagem dos irlandeses. Além disso, tinha medo de levar um tombo. Em compensação, precisava que alguém tomasse conta da mala que ficaria na parte de baixo. Como uma boa carioca, não largo do osso. Vai que alguém resolve levar minha mala? Parei um casal de gays (eles me perseguem!) na entrada da escada rolante e fiz um deles levar uma das malas.

A casa onde estou é uma graça. Parece de boneca, daquelas que mostram em filmes ingleses. Vou tirar uma foto e mando depois. Moram lá uma mulher de uns 40 anos muito prestativa e dois filhos adolescentes. A Rita, dona da casa, fala lentamente e tentar manter sempre que possível diálogo comigo. O James é o filho mais novo. Muito inteligente, ele lê o jornal e comentar em voz alta tudo o que o interessa. Ele parece ser bem ciumento em relação ä mãe. O segundo é sarcástico. Ele me trata como um bichinho ou um animal em estinção. Já passaram por lá cinco brasileiros, mesmo assim, ele não se acostumou. Adora rir do meu “poor english”. Um espírito malígno anda rondando minha cama todas as noites por causa disso.

O domingo foi esquisito. Cheguei muito cansada. Mal tinha dormido no sábado ä noite porque saí com os amigos e tive que acordar äs 6h30 para ir pro aeroporto. Na Europa o tempo é muito diferente. O dia começa a amanhecer äs 4h30 e termina umas 21h30. Para mim é muito complicado. Vocë fez tudo o que tinha que fazer e mais um pouco e o dia não escurece. É como dizer: estou morta de cansaço mas não posso descansar! Não acabou o dia.

Conclusão, comi alguma coisa e fui para o quarto dormir um pouco. Quando acordei ainda era dia. Entretanto, eu não tinha relógio para saber que horas eram, não tinha despertador para acordar no dia seguinte äs 6h30 e todos já estavam recolhidos, dormindo. Eles costumam acordar muito cedo. Deu um desespero, parecia que eu estava presa no quarto. Não queria mais dormir, mas estava ainda cansada para ler. Queria ver televisão, conversar, dar uma volta pela cidade, no entanto, não tinha a chave, não podia sair. Resolvi ler para dar sonho e dormi.

No dia seguinte, a Rita acordou-se com o café da manhã na mesa. Estou sendo muito bem tratada. Em São Paulo não tinha uma mordomia dessas. A mesma coisa acontece na janta. Quando chego em casa, ela sempre pergunta como foi o meu dia. Coitada, ela não me conhece. É só perguntar que eu não paro mais de falar! Em inglês é só um pouco menos do que em português.

Na segunda-feira fui até a escola, fiz o exame para ver em qual turma iria ficar. Depois, fui até o Trinity College para fazer a carteira de estudante, ao Bank of Irealand para abrir uma conta e comprei um celular com câmera fotográfica por 65 euros. Acreditam? As fotos não são uma maravilha mas dão pro gasto. Vou esperar até arranjar emprego para comprar uma máquina digital.

Em um mesmo dia, trës vezes fez sol e choveu. Independente disso, faz muito frio. Aqui não tem relógios mostrando quantos graus está fazendo. Mas o meu nariz e minhas mãos dizem que é muito frio. Algumas vezes é difícil até para respirar porque o vento entra na narina queimando. Agora imaginem uma situação: eu, em baixo de uma sacada, almoçando um sanduíche (comida aqui é muito caro), enquanto espero a chuva passar. Ao mesmo tempo, duas meninas irlandesas vestidas com uniforme brincavam na água. Achei surreal! Aqui esqueço vaidade. Sou uma bola que ainda igual a uma pata cheia de roupas ambulante, sendo que os irlandeses andam de blusinha. Que ódio!

Voltando para a burocracia, agora tenho que esperar uma carta do banco chegar comprovando minha residência para conseguir o visto de seis meses na imigração. Atualmente tenho visto de um mês que consegui no aeroporto. Logo após, vou dar entrada no PPS, um documento que me permite trabalhar legalmente.

Hoje foi o primeiro dia de aula. Já fiz vários amigos. Na minha turma tem uma mexicana, uma chinesa, duas espanholas, uma francesa e vários brasileiros. A maioria é de São Paulo. Fiz mais contato com a Camila, de Porto Alegre. Ela está aqui há um meis e meio, no entanto, está muito perdida, sem amigos.

Em compensação, eu já tenho quatro pessoas registradas em meu celular! Conheci uma brasileira no intervalo da aula chamada Erika. Ela me convidou para uma festa de inauguração de uma casa onde vão morar seis brasileiros com ela. É claro que vou. Amanhã vou me encontrar com Leandro, um português de Portugal amigo da Maria. Vou olhar alguns apartamentos com ele em Dublin e depois vamos beber. Entrei em contato com a Consuelo, amiga do Raul (espanhol em SP) e com os amigos do Toluco. Aguardo o retorno dos e-mails.

As casas e prédios comerciais em Dublin são de no máximo trës andares, em sua maioria. Parecem muito com as construções em Londres. O custo de vida é alto para mim, que compro em reais. No entanto, para um irlandës não. Você pode pagar muito caro, como também encontra coisas muito baratas. Só para morar aqui é que você terá mais problemas (a bolha imobiliária também está acontecendo aqui), principalmente para comprar uma casa.

Os ônibus são de dois andares; o transposte público é muito bom; as pessoas são muito agradáveis e prestativas. Uma imitação de havaiana aqui encontrei por 17 euros. O livro do Paulo Coelho é indicado como o 16º na lista dos top 20 em uma livraria no bairro chique de Dublin. Sete pares de meias lycra cano curto custam 5 euros; dois pares de meias grossas para dormir, 1 euro. Um sanduíche em uma baguete custa em média 3,90 euros. Uma água ou suco 1,90 euros.

A cerveja e o vinho por aqui ainda não verifiquei. Desculpem, tenho vergonha em constatar essa informação. Hoje esclarecerei a dúvida. A comida é basicamente batata. Batata assada, batata cozida, batata frita, batata amassada com carne, frango, cenoura, ou algo do tipo. Eles também adoram um chá que é uma mistura de outras folhas/flores que se parece muito com o mate no Brasil. Tomam no café da manhã, almoço, janta. Com leite, sem leite, com açúcar, ou sem.

A Roberta na Irlanda é que está mais calma. Estou apreciando ler mais. O frio acalma. Quero conhecer amigos mais quero estudar mais. Hoje vi que uma gramática de espanhol para aprender sozinho custa 15 euros. Tenho lido jornal. Na sexta passada foi a eleição do novo primeiro ministro. O apelidado Tigre Celta continua em pleno crescimento. Este ano a previsão é de 5% e para o próximo ano, 4%. Conversei com uma amiga mexicana. Vocës sabiam de para um mexicano comprar um euro precisa de 15 pesos? Para nós seriam 15 reais para um euro. É quase impossível viajar e morar fora sem a ajuda do governo. Descobri também que há trinta anos os espanhois não podiam viajar, não podiam emitir passaportes. É verdade? A informação colhi na aula de hoje. O assunto foi sobre ditaduras, herois e ícones.

Eu estou me sentindo uma heroína. Todos os medos passaram. Já cheguei, tenho alguns colegas, tenho autorização para ficar. Agora é só aproveitar.