terça-feira, janeiro 30, 2007

Quem conta um conto, inventa outro

Hoje acordei cedo. Tinha que resolver a última pendência em relação a minha mudança de apartamento. Tirar as coisas de uma amiga que está na Europa do meu antigo apartamento. Tarefa teoricamente fácil. Eis que a experiência resultou em meu mais recente conto.

Peguei o contato de um cara que faz frete com uma amiga. Liguei e, decidi junto com minha amiga ‘internacional”, o custo. Eram R$ 70 para levar uma secadora de rouca do tamanho de uma máquina de lavar e uma mesa de centro de vidro. A mesa já tinha sido quebrada em uma das tradicionais baladas na Pensão Apinajés. Concertei. A secadora não tive problemas; nunca nem liguei.

No telefone, expliquei que era para levar as coisas da Vila Madalena até a Granja Viana. Uma curta viagem. No dia anterior, o cara veio com o seguinte papo:

- Dona, estou ligando para confirmar a mudança amanhã e pegar o seu endereço. Passei os dois endereços, o de retirar as coisas e o de entregar. Daí começou a piada:

- Dona, a senhora não me disse que era na Granja Viana. Eu achei que era na Guiana, uma rua perto da Av. Rebouças. O custo do frete vai aumentar em R$ 80.

Respondi tentando não demonstrar o meu sarcasmo. Vamos combinar! Guiana era muita criatividade. Nem me dei o trabalho de saber se existia esta rua:

- Como assim? Eu expliquei exatamente qual era o local. Argumentei e me fazendo de cínica.
- O senhor vai aumentar então em R$ 10 o frete? De R$ 70 para R$ 80. É isso? Falei quase rindo. O cara respondeu:
- Não senhora, Dona. O frete vai aumentar para R$ 150.

Neste momento, eu disse que ia checar com minha amiga “internacional” se ela topava pagar os R$ 150 e que daria retorno. O cara quis ser mais esperto do que eu. No dia seguinte, às 8h30, ele apareceu lá em casa. Quando atendi o interfone, ele se identificou. Eu respondi:

- Eu não tinha avisado ao senhor que eu tinha adiado o serviço? Inclusive deixei recado no seu celular para ratificar?

Ele, puto, argumentou:

- Eu não vi recado nenhum. E a senhora não desmarcou, não. Eu não vou arcar sozinho com o prejuízo. A senhora vai ter que me pagar pelo menos R$ 30 de gasolina. Daí eu já fui debochada.

- O senhor não escuta o que eu falo, não atende o celular e não acessa a sua caixa postal e sou eu quem vou ter que arcar com o custo? Eu não tenho dinheiro para dar ao senhor.

Baixei a mulher “macho” pelo seguinte: o cara tinha o meu celular e o endereço da minha casa. Entretanto, nunca tinha visto a minha cara. Sair do apartamento, várias mulheres iriam sair. Agora, ele perceber quem eu era, seria difícil. Então, como uma carioca exxperta, comecei a imaginar quais eram as possibilidades dele me identificar. Viajei tanto na batatinha que inclusive coloquei o meu celular no silencioso. Vai que o cara do frete decide ligar no meu celular quando cada mulher tivesse saído do apartamento para saber quem eu era? Tudo bem que eu ia perceber... mas nada neste momento é racional. Apenas meia-hora depois da discussão eu teria que sair de casa para trabalhar.

Ao deixar no silencioso, o celular ia tocar, não faria barulho e eu nunca iria atender nenhuma ligação até chegar no Metrô. Você me acha louca? Antes louca do que encrencada. Bom, o celular não tocou. Mas fiquei olhando, de canto de olho para não me boicotar, para ver se tinha algum carro que pudesse ser do cara do frete. Olhei, claro, antes pela janela na hora de sair de casa.

Depois do ocorrido, pesquisei outros fretes. Achei um na Cupecê. Liguei, combinei o serviço pelo valor de R$ 60. Neste momento, acreditei que tinha valido cada segundo de histeria e preocupação que passei naquele dia. Rá! Como eu estava enganada.

O cara da “Cupecê” era muito simpático, educado, bem arrumado. Todos os “ados” da vida. Ajudou-me a carregar as coisas até a Fiorino. Eu ainda prometi dar a ele um fogão e uma geladeirinha que a minha amiga que está morando no meu apartamento pediu para doar. Tudo indo muito bem. Até que entramos no carro e ele começou a falar. Falamos sobre amenidades até ele resolver desabafar. Quase chorei.

Ele começou a contar que ele tinha passado por uma crise no casamento de quase 30 anos há um ano. Estava tudo indo muito bem em casa. No entanto, uma amiga fofoqueira tinha estragado a felicidade dele. Ele disse que a mulher dele era espírita e que tinha conhecido outras amigas. Uma delas está separada há seis meses. E mais, tinha uma paquera no centro espírita. Veja você: a mulherada está tão desesperada para arranjar namorado que arranja até religião pra colocar em prática o plano maligno. Já percebeu que é só se separar que homens, e principalmente mulheres, procuram pela ajuda divina?

Bom, ele me descreveu uma mulher instável, fofoqueira, insatisfeita, invejosa. Após a descrição, ele contou o que aconteceu. Um dia, enquanto a mulher não havia chegado em casa, ele resolveu puxar papo com a “Fifi” (fofoqueira). Na altura do campeonato já imaginava uma daquelas vizinhas fofoqueiras, que ficam na janela tricotando, à moda Nelson Rodrigues.

Ele iniciou o papo da seguinte forma: olá Rita, tudo bem? Como anda a vida? E o tal carinha que você estava gostando do centro espírita? Ah! Ele não está mostrando interesse? É que esses homens não querem nada sério com as mulheres. As mulheres estão muito possessivas. Uma mulher bonita como você, tão tranqüila como você, paciente, com uma pele tão bonita, com uma cor morena tão bonita, com um corpo tão cuidado, não dá para não se interessar. É que esses homens gostam de profissionais do sexo, que não dão trabalho. Perto do meu trabalho (aeroporto) tem um monte.

Outro dia, a Rita ligou duas vezes para a mulher dele. Foi ele quem atendeu ao telefone pois a esposa estava ocupada. Depois de um tempo, a mulher dele disse que ia ao salão de beleza e que, no caso da Rita ligar, por favor pedisse que fizesse contato no celular. Ele quis ser tão gentil que antes da Rita ligar, ele ligou pra ela! E falou pra ela aparecer na casa dele que é perto do salão.

Até aí, a história já estava esquisita, mas não julguei. Eu gosto de dar corda ao ser humano pra ver até onde ele irá chegar. Uma vez li um livro chamado “O Segredo de Joe Gold” que contava a história de um cara que estudou em Harvard, uma das mais conceituadas instituições de ensino nos EUA, no entanto, tinha largado tudo para virar mendigo. O objetivo era escrever a bíblia da humanidade. Escrever um livro contando a vida cotidiana, a vida de cada um. Achei interessante a idéia. Não, calma. Não vou escrever a sua vida. Você é meu amigo, ainda prezo pela nossa amizade. Entretanto, me trate sempre bem.

Também pensava sobre o quesito confiança. Por que as pessoas confiam em mim? Por que têm vontade de desabafar comigo? Não é pra confiar! Eu sou uma cretina! Eu sou linguaruda! Neste caso, por exemplo, não só contei para os amigos como escrevi um conto e mandei até para os amigos que moram nos EUA e Europa! Quer mais que isso!

O cara do frete não parava de falar. Ele disse que neste dia a Rita não só encontrou com a mulher dele como ficaram conversando até meia-noite. Ele tinha percebido que a “Fifi” tinha aberto a boca. E mais! Tinha contado a história “totalmente deturpada”! Ele só queria ajudar! Fazer com que ela se sentisse melhor! Afinal, eles tiveram foi um “papo” de adultos! Ela foi infantil e invejosa. Queria ver a mulher dele separada. Ela, por outro lado, não só acreditou plenamente na amiga, como pediu o divórcio e o colocou pra fora de casa.

Eu que sou uma carioca desconfiada, já questionei:

- A sua mulher nem duvidou da amiga? Peraí, o motivo da crise há um ano foi de mulher?

Ele confessou.

- Foi. E esta eu confessei. Realmente errei.

Em um dia normal, como outro qualquer, ele estava em casa sozinho. Somente a emprega de 25 anos, muito inocente, estava no doce lar. Limpava a varanda com água. Ele resolveu assistir no meio da tarde um filme pornô. E mais, convidou a empregada pra ver.

- Fulana! Você quer ver uma coisa proibida? E ele alegava que tinha avisado que era proibida.

Quando a empregada viu o que era, chamou todos os santos. E a irmã da mulher dele. E depois, com a ajuda da cunhada, a empregada foi à delegacia e deu parte por assédio moral.

E eu quase fui acusada de assédio moral. Nesta hora eu não agüentei! Pensei como poderia sair do carro e ir para casa. Estava no meio da Raposo Tavares com trânsito. O cara era um louco! Pervertido! Mostrar filme pornô pra empregada. Surreal! Pervertido júnior. Metido a esperto. Eu me controlei. A minha língua não.

- Cara, como você pôde fazer isso! E dentro de casa! Tá maluco! Continuei:
- Nossa! Você foi muito burro! Homem é burro! Na hora de fazer cagada, escolhe fazer dentro de casa! Ou com alguma amiga da mulher! Ou em um local onde todos podem ver! Se quer trair, aprenda pelo menos a fazer!

Eu não consegui me controlar com a cara de pau! Eu que não tinha nada haver com o cara já estava achando que ele era um cretino. E olha que não escutei a versão da mulher dele. Como ela conseguiu ficar 30 anos com ele? Acho que foi milagre do espírito santo.

Ele se defendeu:

- Mas eu não sei onde fazer. O ser humano acaba perdendo a cabeça. É normal. Eu acabo cometendo meus erros em casa, no trabalho ou com os clientes, com quem acabo convivendo. Neste momento, ele deu uma olhada de rabo de olho. Quase berrei! Olhos pra cima! Se baixar, eu te mato!


Daí, ele argumentou que ele já ficou sabendo de uma traição da mulher e que se ela dissesse que tinha necessidade de traí-lo novamente para matar a vontade de estar com outra pessoa, ele deixaria. No entanto, não queria perder ela por nada desse mundo. Não imaginava outro homem morando na casa que era dele. E eu já traduzindo: ele gostava de suruba!

Respondi:

- Vende a casa então. Assim, você compra outra, ela também e você pode aprontar quantas vezes quiser.

Neste momento, estávamos chegando em minha casa. Quando ele estava estacionando, o telefone tocou. Olhou-me com cara de que estava aprontando e disse:

-É da minha casa. É minha filha ou ela – minha mulher. E atendeu.

Começou a conversar e nisso eu estava dando tchau para sair do carro. Ele fez que era pra eu esperar. Parecia que era amigo! Quase usei as comunidades do Orkut: Sou Legal, Não Estou Te Dando Mole ou Vem Cá, Te Conheço? Eu só disse que estava com pressa. Fui embora.

Agora me explica. O que fiz a Deus? Termino também com a tática do centro espírita. Chamando por Jesus, Maria, José e os apóstolos em fila.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Confesso que no último ano tive de tudo
Sexo selvagem
Animal
Com certa agressividade

Sexo calmo
Um amante à moda antiga
Com carinho e certa calma

Todos são gostosos
Contanto que sejam prazerosos
Que o desejo não se perca

O agressivo
Pode virar impulsivo
E causar a falta de tolerância
Ou um certo nojo após
(apenas sexo é bom na hora, dá um vazio depois)

O amoroso
Pode virar cansativo
O carinho ser demais
E o sono adentrar em minha cama

Descobri
Que o amor nasce na cama
No meu caso
Mas não necessariamente de uma boa transa
Já me apaixonei por um cara
Que me abraçava depois
Como se meu corpo não me pertencesse mais

É
Não tem jeito
Vou tentar destrinchar os meus desejos
Tentar passar em palavras
O que meus sentidos me consomem por dentro
E que me fazem virar escrava
Do prazer intenso

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Traição

Raiva, indignação
A sensação de que nunca terá perdão
Conviver diariamente com uma pessoa
E descobrir que cada dia foi uma mentira
Essa é a sensação da descoberta da traição

Vontade de fazer com que a pessoa indigna
Sinta a mesma coisa que um dia senti
E descobrir que, como se não bastasse a sacanagem,
Mentiras ainda estão por vir

Agora estou em uma situação:
Conto minha versão
Ou me torno um vilão

Esta situação é ridícula
Uma pessoa que não sabe respeitar laços é mesquinha
Que usa da sua lábia
Da mentira, da oportunidade, boa fé e abstinência para justificar os erros
Não merece perdão

O único fato que me acalma
É que convivi com uma farsa
Mas a minha vida é de realizações, verdades
Dinheiro, recupero
E me afasto de desculpas, falcatruas e limitações

Não digo que um dias a pessoa irá pagar
Porque dinheiro nunca tem
E vergonha na cara nunca teve

No entanto, já paga com a vida perdida
Paga com a solidão que sempre acompanha

Na verdade, não fui eu. É outro quem perdeu.

Bixxcoito